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CRÍTICA: MEU QUERIDO COMPANHEIRO (1989), DIR.: NORMAN RENÉ


"Um estranho câncer foi detectado em 41 homossexuais. A epidemia ocorre entre homens em Nova York e Califórnia. 8 morreram em 2 anos. A causa da epidemia é desconhecida, e não há ainda evidência de contágio, mas os doutores que diagnosticaram se contagiaram... Mas nas cidades de Nova York e na Bahia de São Francisco estão alertando a outros médicos que tratam grande número de homossexuais pelo problema, em um esforço para identificar os casos e reduzir a demora em oferecer o tratamento de quimioterapia". São essas e ainda mais palavras que os protagonistas leem em um jornal diário, sobre os sintomas iniciais e precauções contra a até então Sarcoma de Kaposi, logo no início da sessão.


A importância de "Meu Querido Companheiro" para a comunidade LGBT é grande. No início dos anos 90 já se faziam cerca de 10 anos desde que as notícias acima haviam sido publicadas e nenhum filme digno sobre a temática surgiu até então. Antes do sucesso de "Filadélfia", já com status comercial e estrelado por Tom Hanks e Denzel Washington, Norman René estreava essa produção de baixo custo e sem muitas pretensões. É um pioneiro em expandir o conhecimento sobre o HIV e colocar em debate um tema até então encoberto por panos.


O filme conta com inúmeros protagonistas e transcorre durante a evolução da aids nos anos 80. Temos o personal trainer Willy e o advogado Fuzzy. David, um herdeiro rico e seu namorado Sean, roteirista de TV. Howard, que é homossexual e protagonista de uma de suas telenovelas. Ainda temos Lisa, irmã de Fuzzy e seu amigo John, que é a primeira vítima da aids, na época ainda diagnosticada com pneumonia.


É desconfortante ver com a passagem dos anos as transformações que a doença causa na rotina dos personagens. Em Willy, se instala uma sensação de paranoia, rolando um afastamento do namorado e amigos pelo medo da contaminação - típico para uma época ainda sem muito conhecimento. Já Howard, o ator, vê sua carreira ir por água abaixo quando seu namorado descobre ser hiv positivo. Por mais dramáticas (e realistas) que sejam as escolhas do roteiro, é edificante que em meio a tanta tristeza salta na tela um sentimento como a amizade. Como sempre devemos procurar um lado bom para as coisas, o HIV também serviu para unir e mostrar a solidariedade na comunidade LGBT. Os laços que existem entre os personagens são muito fortes, inclusive com o próprio espectador, que sente a perda de cada um deles. Uma grande representação de tudo isso é a relação do casal David e Sean, onde David quebra qualquer restrição de contaminação para cuidar do parceiro. Não é pra menos que seu personagem foi o mais querido nas premiações e seu intérprete tenha ganhado tanto destaque. Pelo papel, o ator Bruce Davison venceu o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante e foi indicado ao Oscar e ao Independent Spirit Awards.


"Longtime Companion" foi um verdadeiro sucesso de bilheterias, conquistando o público e que lhe fez vencer o Prêmio da Audiência no Festival de Cinema de Sundance. Seu elenco, excelente em cena, estrelou vários sucessos posteriormente como Demot Mulray, par romântico de Julia Roberts no sucesso "O Casamento do Meu Melhor Amigo" ou Mary-Louise Parker, estrela da série "Weeds". O mais lindo é que no final as lágrimas surgem sem apelar para exageros, apenas na presença de algo que sempre existirá quando o assunto é a aids - esperança.


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