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CRÍTICA: DO COMEÇO AO FIM (2009), DIR.: ALUIZIO ABRANCHES


A médica Julieta é mãe de Francisco, fruto do seu relacionamento com um argentino. Depois da separação, ela conhece o arquiteto Alexandre, com quem tem outro filho, Thomás. Com o tempo, Julieta acaba notando que no carinho dos irmãos se desenha uma sólida paixão.


"Do Começo ao Fim" aborda um tema espinhoso - o incesto. Seja em uma relação heterossexual ou homoafetiva como aqui, ainda é uma tema tão tabu e vítima de preconceito que são poucos os filmes que o abordam. Com isso, a produção do carioca Aluizio Abranches ganha pontos pela ousadia em tratar de um tema praticamente inédito no cinema nacional.


O filme faz questão de evidenciar cada ponto da relação dos jovens, começando pela infância. Nela, a mãe vivida por Julia Lemmertz já enxergava essa aproximação e vínculo "exagerado" entre os filhos. Com isso se vai uma metade importante da projeção, já cheia de erros, notando-se uma falta de sensibilidade e sutileza do roteiro. Cada atitude dos irmãos parece gerar uma cena de preocupação da mãe, sendo algumas até de contato normal nessa faixa etária. É um grave problema de querer mostrar demais, subestimando o espectador em entender que o amor incestuoso entre irmãos pode começar cedo e não uma escolha da fase adulta.


Infelizmente, a coragem notória da temática parece acabar na fase adulta. A segunda metade do filme mostra os personagens já crescidos, abrindo em uma cena bastante direta de sexo, nudez e trocas de carinho. A partir desse momento some qualquer problema desse relacionamento e os dois passam a parecer um casal normal, vivendo até uma realidade fantasiosa. Se por um lado é diferente ver esse tipo de amor sendo retratado com tanta normalidade, todos sabemos que no mundo real as coisas não funcionam assim e se perde oportunidades de gerar discussões e conflitos.


Rafael Cardoso e João Carlos Vasconcelos interpretam o casal na fase adulta. O longa-metragem aproveita da beleza corporal dos atores e insere diversas cenas "quentes", mas parece subestimar bastante seu talento como artistas. A trilha sonora incessante, enjoativa, também não ajuda nos momentos mais dramáticos. É sem duvida um dos piores usos desses recursos sonoros que eu já o "desprazer" de ver (ou ouvir). Falta também nos dois, um carisma maior, que talvez nos faça embarcar naquele romance e deixar o roteiro um pouco mais crível. Por outro lado, a atuação de Julia Lemmertz, sempre ótima, parece salvar um pouco os desastres da primeira fase.


"Do Começo ao Fim" causou até um certo burburinho na época do lançamento, até por ser um dos poucos filmes nacionais com protagonistas LGBT, e também pelo tema espinhoso que os cerca. Pode até ser bem intencionado na sua tentativa de mostrar que todas as formas de amor são válidas e merecem respeito, mas Alouísio perdeu uma grande oportunidade de levar questionamentos importantes e fazer um filme relevante para a comunidade LGBT e se conectando a nossa realidade.


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